Choques digitais que testaram a força dos bancos

Cripto e Bancos
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Durante anos, os bancos observaram o avanço das criptomoedas com certo desdém. Mas tudo mudou quando, no auge do pânico em março de 2023, clientes do Silicon Valley Bank começaram a sacar valores em massa — alguns transferindo direto para stablecoins. Um efeito dominó que ganhou velocidade graças à liquidez das criptos. No meio disso tudo, o termo crazy time 777 nem parecia tão exagerado: a velocidade das transações digitais estava simplesmente fora do controle tradicional.

Essa crise expôs uma fragilidade inesperada. Se antes uma corrida bancária dependia de filas físicas, agora ela acontece em segundos, via app. O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, chegou a afirmar que uma simples notícia ruim hoje já pode esvaziar um banco em minutos — e com apenas alguns toques na tela.

As finanças descentralizadas (DeFi) também apertaram o cerco. Elas oferecem serviços como empréstimos, câmbio e investimento sem precisar de banco algum. E fazem isso com taxas menores, liquidez maior e operação 24/7. Não é só concorrência — é uma reconfiguração estrutural. Sem reação, o sistema bancário vira coadjuvante.

Autoridades globais não ignoraram isso. Agustín Carstens, do BIS, chamou o Bitcoin de bolha com traços de pirâmide. Em 2024, cerca de 39% de todas as transações cripto ilícitas envolveram entidades sancionadas — e os reguladores estão de olho. O alerta não é só moral: é risco sistêmico.

A Era da Cooperação: Bancos Que Decidiram Se Adaptar

Mas nem tudo virou guerra. A verdade é que muitos bancos perceberam que resistir à cripto seria como lutar contra o Wi-Fi: inútil. Então, decidiram adotar — à sua maneira. O JP Morgan criou a JPM Coin, uma stablecoin usada para liquidações internas. Já o BNY Mellon e bancos suíços passaram a oferecer custódia de criptomoedas como parte do portfólio.

O Brasil deu um passo além. Desde 2021, ETFs de Bitcoin e Ethereum foram autorizados — via B3 — permitindo a entrada das criptos no radar do investidor comum. Bancos como Itaú, BTG Pactual e Santander lançaram plataformas próprias para compra, venda e até tokenização de ativos reais. Tudo isso operando sob a supervisão do Banco Central e da CVM.

Essa integração não é só técnica. Ela muda o jogo. O Drex (Real Digital), por exemplo, tokeniza depósitos bancários — permitindo contratos inteligentes e transações programáveis. O próprio Campos Neto disse que esse é o “início da tokenização do sistema bancário”. Ou seja, cripto virou solução, não problema.

E não é exclusividade brasileira. Projetos como o mBridge — liderado por bancos centrais da China, Hong Kong, Tailândia e Emirados Árabes — mostram que até sistemas financeiros conservadores estão testando blockchains para pagamentos internacionais. A lógica é simples: se a tecnologia pode reduzir custo e aumentar velocidade, por que não usar?

A tendência, claro, é formar um sistema misto. Tradicional, mas eficiente. Regulado, mas digital. Algo como o que se vê no ecossistema Mynt, criado pelo BTG, onde ativos digitais são oferecidos com a mesma segurança de qualquer aplicação financeira. O nome disso? Adaptação com inteligência.

Híbridos em Ação: O Modelo Brasileiro de Integração

O Brasil não ficou esperando a tempestade cripto passar. Decidiu abrir o guarda-chuva e sair caminhando junto. Em vez de resistir, criou um modelo híbrido onde bancos tradicionais e criptoativos convivem — regulados, sim, mas também operando com mais liberdade e eficiência. Esse ecossistema tem nome e sobrenome: começa no Banco Central e se estende por plataformas como a Mynt, até os projetos de tokenização do Itaú.

Por aqui, blockchain já não é sinônimo de ameaça. Vários bancos adotaram blockchains privadas para acelerar processos, reduzir custos e ganhar segurança. O que era visto como desvio agora é infraestrutura. O ambiente regulatório, com apoio direto da CVM e do BC, permitiu que fintechs e gigantes financeiros atuem no mesmo campo — cada um com seu papel, mas sob o mesmo conjunto de regras.

O Drex (versão tokenizada do real) é talvez o melhor exemplo dessa virada. Ele permite que depósitos bancários sejam usados em contratos inteligentes — modernizando o sistema sem perder o controle regulatório. Para o Banco Central, isso não é um experimento — é a base do futuro financeiro. Não por acaso, Roberto Campos Neto já falou várias vezes sobre o “mundo tokenizado” que se aproxima.

Nada de revolução violenta. O Brasil optou por uma transição silenciosa, mas firme. Em vez de bloquear a inovação, escolheu conduzi-la — e isso tem feito toda a diferença.

Tecnologia Não Substitui Confiança — Mas Pode Reforçá-la

Por mais que se fale em blockchain, wallets, tokens e inovação, a verdade é uma só: nenhum sistema financeiro sobrevive sem confiança. E nesse ponto, os bancos ainda têm a vantagem. O que mudou é que agora a tecnologia passou a ser usada como aliada dessa confiança — não como ameaça.

Não se trata mais de “bancos contra cripto”. A disputa virou cooperação. Desde que bem reguladas, as criptomoedas e stablecoins podem ser integradas ao sistema tradicional — reforçando a estrutura, não corroendo. O segredo? Clareza nas regras. E foi exatamente isso que o Brasil começou a construir.

Instituições sérias perceberam que resistir à cripto seria como nadar contra correnteza. Então, começaram a oferecer esses ativos com a mesma responsabilidade com que oferecem ações ou fundos. A ideia é simples: se o cliente vai investir em cripto, que o faça com transparência e segurança — dentro de casa.

A confiança que sustenta o sistema bancário internacional não está sendo substituída. Está sendo atualizada. Quem entendeu isso, como o BTG na Mynt, saiu na frente — unindo reputação sólida com tecnologia de ponta.

A blockchain não tem moral. Ela não é boa ou ruim — só é útil ou inútil. Cabe a cada banco, cada país, cada regulador, decidir o que fazer com ela. E quem souber usar bem, vai continuar sendo relevante — com ou sem criptomoedas na equação.

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